quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Manifesto aos Direitos Humanos

Com tudo o que tenho presenciado e estudado nos últimos anos, não deveria estar espantado com as reações da imprensa nacional e dos sanguessugas do campo brasileiro ao lançamento do decreto do programa nacional dos direitos humanos pelo governo federal.

Tal Programa, dentre outras coisas, estabelece o vetor da negociação em assuntos ligados a ocupação de terras por movimentos sociais, descriminalizando-os, cria uma espécie de agencia reguladora para a imprensa nacional colocando em dúvida sua posição de “dona da verdade” e questiona a lei de anistia a fim de oferecer as mães e pais de filhos seqüestrados, presos, torturados e muitas vezes mortos por um terrorismo de Estado a única coisa que lhes resta, a justiça. Entendo que um programa dessas proporções deve ser aberto a um amplo debate público, verdadeiramente democrático com a participação de todas as parcelas da sociedade, incluído a grande população brasileira que sofre de falta, falta de emprego, de dignidade, de terra, de comida, de vida.

Não foi menos surpreendente para a minha pessoa, que tal governo despótico lançasse um documento que, apesar de algumas falhas, realmente apresenta-se como uma efetiva tentativa de garantir os direitos humanos para aqueles que mais precisam, aqueles que a humanidade já fora usurpada há tempos, quando desapropriados de suas terras e relegados a subempregos no campo ou a condições no mínimo indignas nas favelas das grandes cidades.

Quando a representante do agronegócio, em tom agressivo, exclama no Jornal da Globo do último dia 7, que a cartilha fere princípios como os da propriedade privada, do lucro e do mercado que, segundo ela, são as bases da democracia brasileira, fica claro a inversão de valores presentes em nossa sociedade.Uma democracia verdadeiramente humanizada deveria velar pelo pleno acesso à dignidade de todos os homens não pela propriedade privada, deveria garantir as necessidades básicas e não o lucro de poucos e a lamúria de muitos, deveria orientar-se pelos homens e não pelo mercado.

Garantir o direito de manifestação daqueles oprimidos pelo sistema, dando-os, mesmo que a miude, uma oportunidade de negociação, fere de forma profunda as bases perversas do agronegócio.

É um absurdo muito grande dizer que o agronegócio não respeita os pequenos e médios produtores, para não dizer a sociedade como um todo? Ocupam a grande maioria das terras férteis do país plantando soja para alimentar porcos na Europa, China e Estados Unidos. As agroindústrias, juntamente com as grandes redes de supermercados, sendo boa parte, constituídas por multinacionais, apropriam-se de grande parte da renda do trabalhador rural, subordinando-o às suas exigências e padrões, recompensando-os vergonhosamente por isto. E o que resta aos nossos pequenos e médios agricultores? Os mais capitalizados tornam-se fantoches na mão das empresas já aos mais pobres resta a fome e a luta!

A mesma imprensa que brada a todos pulmões por liberdade de expressão é aquela que fecha suas portas aos movimentos sociais e aos intelectuais de esquerda. E como se carregasse no ventre a verdade absoluta, distorce os fatos e manipula a grande massa de oprimidos de acordo com os interesses dos opressores.

Fica aqui minha vã tentativa de manifestação de repúdio a todos aqueles que ignoram um sexto da população mundial que vive abaixo do nível da pobreza e que sofre todas as noites de indigestão, enquanto outros morrem de fome. Podem me taxar de utópico e sonhador, mas prefiro continuar como nefelibata do que curvar-me passivamente diante de toda ganância e injúria do homem.


Ele

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