terça-feira, 17 de agosto de 2010

O Pleno direito a felicidade: Você Se acha especial?

No último dia 15, tivemos o prazer de comparecer a mais um “Domingo é Dia de Cinema”, uma sessão de cinema voltada para pré-vestibulares comunitários a fim de fomentar o debate de temas de grande relevância para o crescimento de nossa consciência cidadã. O tema em cartaz desta vez foi a questão fundiária no Brasil com a exibição do filme “Nas Terras do Bem-Virá”, já aclamado neste blog. No entanto, esta postagem não será referente a temática mais óbvia trazida pelo filme, mas sim acerca do roteiro social que anima todo o nosso cotidiano de desigualdades e espoliações.

Fomos sensivelmente cativados pelas palavras de um dos debatedores, a “sem teto” Lurdinha, que com a sua paixão e retórica de causar inveja a qualquer cientista social, nos levou a uma série de reflexões e a reafirmação da necessidade cada vez maior da efetiva participação popular como mola propulsora da história. Uma fala em especial chamou muito a minha atenção, tentarei reproduzi-la com o máximo de fidelidade, porém com as adaptações que minha malfadada memória impõe.

“A sociedade organizada entra em confronto com os interesses do capital por duas vertentes distintas, porém complementares. A primeira vai no sentido da reivindicação e busca de melhores condições de trabalho, ou seja, de vida. Já a segunda está relacionada ao reencontro do homem com a solidariedade, a volta a vida em comunhão e a conseqüente negação ao individualismo e competição do mundo contemporâneo.”

É sobre esse individualismo e egocentrismo que dedico o esforço de escrever essas palavras. Assistimos com cruel passividade aos inúmeros problemas que se impõem a nossa sociedade, como a fome, a total falta de dignidade em que vive 1/3 da população mundial e a alienação em que vive grande parte dos homens em relação as suas verdadeiras potencialidades e necessidades. Agradecemos a Deus o conforto e as “graças” de nossa vida e fechamos os olhos para os “negligenciados de Deus”, achamos que somos perfeitamente merecedores de tudo o que temos, mas esquecemos que muitos não têm direito nem se quer a dignidade.

O que tiro disso tudo é que realmente acreditamos que individualmente somos especiais, dignos de todas as benesses que o mundo possa nos oferecer e com o passar do tempo, nos tornamos incapazes de nos sensibilizar com as necessidades de tantos seres humanos como nós, que também tem o direito a plena felicidade!

Esta tal plena felicidade que nos foi expropriada e pela qual não lutamos para recuperá-la. Salvo algumas boas exceções, ao invés de oferecermos a sociedade o que temos de melhor, com os nossos verdadeiros talentos, desperdiçamos uma significativa parcela de nossa vida a atividades que servem acima de tudo para a maior remuneração do capital, em troca de fugazes momentos de consumo, e o pior, acreditamos que isso é o que nos faz verdadeiramente felizes.

Gostaria de pedir desculpas às pessoas “agraciadas” por Deus, mas vocês não são especiais, todos nós somos especiais, todos têm o direito à plena felicidade. Não estou falando aqui do gozo do consumo, mas sim, daquilo que nos torna verdadeiramente humanos, que é o amor, a compaixão, o afeto, a liberdade, o exercício das nossas verdadeiras potencialidades. É exatamente esse direito fundamental que nos é progressivamente cerceado, e o que fazemos quanto a isso?

Na verdade não fazemos nada, e ainda contribuímos para a manutenção desta situação. A única coisa que interessa é a satisfação dos interesses individuais, que de autênticos não tem nada, temos gostos cada vez mais genéricos, opiniões cada vez mais pasteurizadas e satisfações cada vez mais contestáveis. A coletividade, a fraternidade e a comunhão, inerentes a qualquer organização social saudável são substituídas por enfermidades como o individualismo e a ganância nesta nossa sociedade doente.

Por fim, assim como a companheira Lurdinha, a quem a partir de hoje tenho uma imensa admiração, convido a todos a levar uma vida cada vez mais humana, a procurar o movimento social mais próximo e dar a sua contribuição, para avançarmos na idéia do “cada um tem que fazer a sua parte” para o que Paulo Freire já anunciava: “Ninguém muda ninguém, ninguém muda sozinho, nós mudamos em comunhão”.

Um carinhoso abraço a todos, em especial àqueles que dedicam a sua vida ao ser humano, Irmã Dorothy, Chico Mendes e muitos outros mártires da luta pela dignidade humana!



Ele