sábado, 24 de abril de 2010

Vale a pena assistir!!!

Aqui vai a dica de um vídeo fantástico exibido no dia 12 de abril de 2010, pela Globo News. É uma entrevista com o geógrafo e professor David Harvey, na qual ele explica alguns dos princípios do capital que ocasionaram a onda de crises pelas quais ainda estamos passando. Não cabe aqui nenhum tipo de explicação acerca dos conteúdos abordados na entrevista, visto a clareza com que o entrevistado expõe suas idéias.

Só uma pequena ressalva: o início da entrevista é um popuco lento, mas vale a pena assistir tudo, do meio para o final é fantástico!


Ele e Ela

terça-feira, 13 de abril de 2010

Duas Histórias, Uma Realidade


CORREIO DO BRASIL
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25/3/2010 11:14:32
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Fiscalização multa rede de lojas Marisa por trabalho escravo
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Por Redação - de São Paulo
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A costureira ganha R$ 2 por peça!
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Uma inspeção de rotina de fiscais do Ministério do Trabalho descobriu, na capital paulista, nesta quinta-feira, trabalhadores bolivianos em condições análogas à escravidão em oficinas de costura contratadas pela rede de lojas Marisa. Cada trabalhador recebe R$ 2 por uma peça que será vendida a R$ 49,99 pela empresa. (...) O rastreamento da cadeia produtiva do setor de confecções levou a SRTE a encontrar trabalhadores, em geral bolivianos, sem registro, com salários de R$ 202 a R$ 247, menos da metade do mínimo brasileiro (R$ 510) e menos de um terço do piso da categoria. As condições de trabalho, saúde e segurança também eram inadequadas. De acordo com as investigações dos fiscais do trabalho, dos R$ 49,99 que um cliente da rede de lojas Marisa pague por uma peça, R$ 2 vão para o trabalhador (4%), R$ 2 para o dono da oficina (4%), R$ 17 para os intermediários (34%) e R$ 28,99 (58%) ficam com a Marisa. (...)

Ainda tem gente que acredita que o lucro é apenas uma relação entre custos e venda. A notícia acima é um exemplo claro da subordinação do trabalho (trabalhador imigrante sem quaisquer direitos) ao capital (Marisa) e é dessa relação, estruturalmente desigual, que resulta o grande estandarte de nossa sociedade, o lucro.

Não se trata aqui de fazer uma campanha contra as lojas Marisa. Esta situação não é exclusividade deste grupo empresarial, a precarização das relações de trabalho é algo corrente nos dias de hoje. Quem não conhece alguém que trabalha sem carteira assinada no regime de “associados” (principalmente advogados), que trabalha10, 11h por dia? Ou um professor que dá aula de 5, 6 escolas com 60, 70 horas por semana?

Guardadas as devidas proporções, a grande maioria das pessoas tem boa parte dos frutos do seu trabalho colhidos por terceiros e a cada dia que passa, somos impelidos a trabalhar mais, ganhar menos e levantar as mãos para o céu e agradecer por ter um “bom” emprego. O que torna essa relação mais complexa é que existem diferentes níveis de subordinação capital/trabalho. O nível de remuneração dada ao trabalhador é diretamente proporcional aos lucros gerados por ele, ou seja, um arquiteto que vira noites fazendo um projeto de um edifício de luxo que irá gerar muitos milhões para a construtora irá ganhar muito mais do que um pedreiro que é apenas um executor de funções facilmente substituído.

Essa divisão social do trabalho (extremamente complexa) é a semente de uma divisão segregacionista do espaço urbano. Uma sociedade estruturalmente desigual gera espaços a sua imagem e semelhança. As melhores áreas são reservadas a um pequeno grupo de pessoas que pode pagar por elas e o Estado, em todas as esferas de governança, segue com a função de provedor de infra-estrutura a fim de perpetuar a valorização da área. Para a grande massa de menos favorecidos, resta espaços degradados, mal servidos de aparelhos públicos e muitas vezes carentes de dignidade.

Acredito que é na complexidade da divisão social do trabalho, que diferencia aqueles que detem o capital daqueles que interessam ao capital e do grande número de marginais ignorados pelo mesmo, que reside a dificuldade de nos reconhecer enquanto um mesmo grupo, criarmos uma identidade de trabalhadores e, por fim (aonde quero chegar), reconhecer que a tragédia do Morro do Bumba é consequência dessa divisão social do trabalho da qual fazemos parte.


Geralmente, diante de tal acontecimento, somos quase que automaticamente impelidos a culpar sucessivos governos por sua irresponsabilidade e descaso. Refletindo com maior rigor crítico penso que é totalmente compreensível tais “atitudes governamentais”, visto que o Estado não é regido (de forma alguma) por valores de igualdade, justiça e cidadania. Ele é movido por pressões sociais, sendo uma espécie de balança pendendo sempre para o lado onde a força é exercida com maior vigor. Então quem é o culpado? A culpa está na estrutura da nossa sociedade que está por traz de governos, relações sociais e de trabalho. Parece fácil colocar a culpa em algo quase que metafísico como a “sociedade”, mas quem constrói a “sociedade”? Somos nós.

Nós que assistimos o crescimento das favelas, da violência e da pobreza e somos incapazes de nos colocar no lugar daqueles que vivem com dificuldades. Nós, que somos atores coadjuvantes na cena pública desse país e acreditamos que por uma ordem divina as coisas podem melhorar.

Sendo assim, pensar na tragédia do Morro do Bumba é enxergar além das desocupações de áreas de risco. É urgente pensarmos que tipo de sociedade queremos. É essa em que pessoas são exploradas ao limite e tem como recompensa o “justo” descanso em casas construídas em cima de lixões?


Ele

quarta-feira, 7 de abril de 2010

6/04/2010. Caos no Rio? Caos no mundo.


Chuva intensa no Rio de Janeiro, ruas alagadas, tráfego parado, serviços, aulas e trabalhos suspensos, desabamentos, lixo, ruas completamente vazias, mortos, caos.

Esse foi o cenário de ontem, terça-feira, dia 6 de abril de 2010, o dia em que a cidade maravilhosa parou e assistiu horas e mais horas de noticiários sobre destruição, isso quando não estava no meio dela e é nesse cenário caótico que se vê florescer grande parte da generosidade e da solidariedade humana. Em comunidades mais carentes onde os desabamentos se fizeram freqüentes, a população se juntou para dar abrigo, comida, resgatar soterrados, mesmo com pouquíssimos recursos.

O curioso que pude perceber é que esse tipo de comportamento não foi uma regra em lugares onde o risco de morte não estava em jogo, como se a solidariedade não fosse importante em todos os momentos do dia e a todos que precisarem de algum tipo de socorro. Digo isso por que um momento simples do meu dia a dia, algo que faz parte da rotina de milhares de brasileiros, ontem mais do que nunca, revelou-me o quanto somos mesquinhos, individualistas, egocêntricos e, se é que a palavra “sociedade” pode ser aplicada a nossa forma de organização, o quanto somos uma sociedade fraca, doente, baseada em fundamentos vazios, embora hajam algumas boas teorias do que deveríamos ser.


Ontem, às 6:15h da manhã eu estava num ponto de ônibus lotado, debaixo de chuva, esperando o bendito 607 que me levaria na hora para o meu estágio. Não foi bem assim que aconteceu, três deles passaram direto, abarrotados de gente, sem espaço nenhum para que outras entrassem. Foi então que o 4º ônibus da linha passou e foi obrigado a parar por causa do sinal fechado e quem estava do lado de fora logo percebeu que havia um grande espaço vazio no fundo do veículo, embora várias pessoas insistissem em se apinhar na frente dele, impedindo a passagem dos demais. Prontamente, todos na rua começaram a gritar para que as pessoas chegassem para o fundo do ônibus, todos provavelmente muito atrasados depois de perder outro três e querendo logo sair da chuva e seguir para o trabalho.

Logo depois da roleta uma mulher que se encontrava sentada em frente a trocadora bradava para quem quisesse ouvir que o motorista era um corno por ter parado no ponto e deixado mais gente entrar pra espremer quem já se encontrava no interior do veículo. Dizia que era falta de bom senso dele, se tantos outros ônibus passaram direto, ele deveria fazer o mesmo, porque não? Óbvio que esses comentários geraram grande tumulto, uns falavam que era fácil falar estando sentada confortavelmente, outros que não eram obrigados a agüentar esse aperto num transporte coletivo, alguns apenas soltavam palavrões a esmo e, enquanto a chuva provocava o caos deslizando encostas, desabando casas e alagando residências, o egoísmo instaurava uma batalha dentro de um ônibus.


E assim foi durante 1h, discussões infindáveis, xingamentos, gritos e um outro episódio que merece destaque. Um homem em pé abria janelas a sua frente sem dar satisfações a quem se encontrava sentado embaixo delas e essas pessoas fechavam de novo as janelas para não se molharem, sem se importarem com o calor que imperava em um veículo entulhado de gente e completamente fechado. Em algum momento da discussão e troca de palavrões entre os envolvidos, o homem de pé falou:

- Mó calor infernal dentro do ônibus e vocês não estão nem aí.

- Lógico! Eu por acaso sou obrigado a me molhar por sua causa? - respondeu um homem sentado.

- E eu sou obrigado a sentir calor por causa de você? – revidou o de pé.

Bom, eu não sei vocês, mas nesse momento me deprimi. É sem dúvida uma bela “sociedade” a que construímos, na qual todos nos reconhecemos como estranhos e não como iguais, queremos nos dar sempre bem e somos incapazes de ceder, incapazes de doar, de sermos generosos no nosso dia a dia. Somos um enorme grupo de egoístas e individualistas fingindo que convivemos uns com os outros e que nos esforçamos para sermos bons. Milhares de anos de evolução e chegamos a isso, a falta de carinho e compreensão com o próximo, a ausência de compaixão e a supervalorização do próprio nariz.
E é incrível como em diferentes escalas, somos todos assim, ou melhor, nos tornamos todos assim, e a maioria não vê sequer isso como um problema e não tem a menor ambição de que algo mude. Ontem me questionei muito e quase afirmei a impossibilidade de mudança, mas hoje é um novo dia e como este, outros virão e quem sabe qual será aquele em que vai ser lançada a primeira semente a levar a humanidade para um caminho melhor?

6 de abril de 2010, terça-feira, chuva intensa no Rio de Janeiro, ruas alagadas, tráfego parado, serviços, aulas e trabalhos suspensos, desabamentos, lixo, ruas completamente vazias, mortos, caos.

Não.

6 de abril de 2010, terça-feira, egoísmo intenso no mundo, ausência de compaixão, supervalorização do próprio nariz, incapacidade de doar, de generosidade no dia a dia, de nos reconhecermos como iguais. Mentalidade egocêntrica, uns são mais importantes, merecem mais que outros e essa é a sociedade que construímos e aceitamos como normal.
Isso sim é o caos.

Ela