terça-feira, 21 de setembro de 2010

O Amor Segundo Eu

É engraçado como algumas coisas acontecem. Já há algum tempo tento escrever sobre esse assunto, mas sempre faltava uma certa inspiração palavrista, algo que pusesse minhas idéias em formato de texto. E foi assistindo a uma comédia romântica meia boca que ela enfim veio, inspirante. Tinha de ser, falar sobre amor é sempre brega, só uma fonte de breguice pra despertar idéias bregas a cerca de um assunto que não o é até onde for sentido, mas que quando vira palavra... brega.

Eu quero falar sobre ele, o amor-romântico-sexual, que geralmente tem um objeto único, enquanto que todas as outras formas do sentimento podem ser digamos, mais abrangentes. Minha vontade de falar sobre, veio da grande indagação a cerca do amor: por que raios a maioria esmagadora passa grande parte da vida procurando-o? Quase todos nós já nascemos sendo amados por nosso pais, parente e irmãos e tão logo descobrimos isso, prontamente os amamos de volta. E de quebra, aqueles que acreditam, além do amor seguramente incondicional dos pais, contam com um amor incondicional divino. Então por que, rodeados pelo sentimento mais forte que existe desde que chegamos ao mundo, quem sabe antes disso, por que fazemos questão de nos arriscar em amores que sabemos que sempre poderão nos decepcionar, nos trair, nos arrancar lágrimas por dias a fio? Além da parte ilógica tem a pretenciosa: o objetivo de sermos a pessoa mais importante na vida de alguém, de sermos os únicos a despertar seu desejo e querer sua compania por toda a eternidade. Tantos milênios de evolução celular pra desenvolvermos um raciocínio que tem isso como fim.

Falando assim, parece que sou contra o amor-romântico-sexual, mas garanto que não sou, jamais serei contra um dos mais belos sentimentos, aquele que se aplica basicamente a estranhos, as vezes a quem até outro dia sequer existia pra você. Na verdade eu sou contra a forma como as pessoas costumam procurar isso, como talvez eu já tenha procurado. Vou explicar minhas idéias logo.

O ser humano é extremamente sociável, alguns estudos dizem que incapaz de encontrar a felicidade sem compania. Além disso, ele desenvolveu o que outros animais jamais desenvolveram, o ego. Então, o homem precisa de um semelhante por perto, alguém que seja um companheiro em praticamente todos os momentos, alguém com quem contar, alguém pra se apoiar. O desenvolvimento do ego, a consciência do ser gerou então, a necessidade de ser amado pelo que é, enquanto humano. Ok, até aí tudo bem, mas o amor materno pode muito bem desempenhar essa função. Bom, o ego têm outros problemas que têm sua matriz na urgência de nos sentirmos especiais e, embora mamãe nos diga que o somos a todo momento, só conseguimos sentir de verdade quando conquistamos o amor. Sim, nossos pais e famílias nos amaram muito antes de sermos. Mas agora que somos, será que alguém no mundo, um desconhecido, é capaz de conhecer nossos pensamentos mais íntimos, decorar nossos corpos e ainda assim, amar-nos? Queremos que alguém chegue o mais perto que possível da nossa complexa psique e a compreenda, pra sentirmos que, afinal, fazemos algum sentido.

E ainda tem a questão do que não somos. Como completar o que não somos, mas gostaríamos de ser sem prejudicar nossa essência? E aí surge a idealização, a idolatria, o tudo que o outro pode ser e que jamais seremos, mas que queremos tanto ter contato. É, esse virou o problema do homem com mentalidade ocidental: carência mais ego, juntou uma coisa com outra e batata, o amor se tornou uma verdadeira e obssessiva busca ao tesouro. E é aí que está a questão.

Não quero ser aqui uma pretensiosa dona da verdade, mas pra mim, o grande problema do amor é que as pessoas o veêm como um problema e não como solução. Acho que isso tem muito que ver com nossa cultura consumista, pois o amor começa a ser um problema desde o momento em que idealizamos um objeto amável, atribuindo-lhe características e o transformando num molde imaginário que tentamos encaixar em cada "candidato" que aparece para o posto. O que estamos procurando? Uma camisa pra usar numa festa? O melhor é que fazemos tudo isso sob o pretexto de que somos criteriosos. Mentira, temos problemas com o ego, muitas vezes, nos achamos o máximo.

E quanta pretensão achar que alguém tem que se encaixar nos seus padrões e que você há de se encaixar nos padrões dessa mesma pessoa. Acho que sim, há uma questão fundamental para que o amor dê certo e que não seja só mais um andar em círculos. Todos temos defeitos, todos. O que nos resta enquanto imperfeitos é encontrar quem possa lidar com nossas falhas e que tenha defeitos que possamos suportar ou então, enlouqueceremos e não será no bom sentido. Ou pior, tentaremos podar alguém pra que ele se encaixe naquele velho molde. Outra questão fundamental pro amor pleno é não cair completamente na irracionalidade. A paixão talvez seja inexplicável, mas o amor tem de ter razão em ser. Você não ama um estranho simplesmente porque o viu andando na rua e meu Deus, ele é a minha alma gêmea! Devemos saber exatamente o que amamos numa pessoa, o jeito, os sonhos, as idéias, uma postura, o modo de agir, o sexo, que são coisas que só a convivência revela. Se não soubermos dizer o que é objeto da nossa admiração, então a paixão se perde e no lugar dela, nada sobra.

Eu vejo o amor, muito grossamente, como uma espiral. Os amantes deveriam crescer juntos e seguir sempre em frente, não dar voltas e voltar e acabar no mesmo lugar. E é por isso que digo que uma relação a dois deve ser uma solução, um caminhar junto, uma união. Aceitar que pra lá das muitas afinidades, as diferenças existem e que não precisamos exigir do outro que ele sinta, pense e reaja como nós e achar que se não for assim, ele sente menos. Algumas vezes temos que controlar nosso ego que pode se tornar um veneno para o convívio, formando o ciúme, o sentimento de posse, as cobranças, a intolerância, a imaturidade. É claro que se você gosta do drama do perder, do amor mal resolvido e problemático, se só o conflito consegue manter sua paixão, talvez esse olhar sobre o amor não seja o melhor pra você. Esse é só o amor segundo eu, com certeza há muitas outras formas de se amar, mas confesso que acho difícil associar essas características a durabilidade do amor. Enfim, é só uma idéia.

De qualquer forma, o mais importante que quero dizer é que você pode procurar o amor a vida toda e jamais o encontrará. Ele é quem há de encontrar você. Não sei o por que, mas pelo que vejo, ouço e vivo, ele parece gostar de nos pregar umas peças, o que encaro como uma qualidade, ser assim, surpreendente.

Eu disse que sou a favor do amor, mas contra a forma como as pessoas o procuram, idealizando-o e sofrendo, se frustrando e dramatizando a aparente dificuldade de encontrar alguém que seja certo pra elas. Sabe, não deveríamos nos preocupar com isso ou acabaremos deixando-o escapar. Deveríamos apenas viver, ir sempre adiante, evitar problematizar relacionamentos, parar de andar em círculos e deixar que um dia, em algum lugar, a espiral nos encontre, deixar que o amor nos encontre. E isso pode acontecer daqui há 10 anos, talvez 30, tanto quanto pode acontecer semana que vem ou quem sabe, amanhã.

Ele me encontrou em algum dia de 2007, mas só no ano seguinte é que eu o reconheci. O amor.
Não foi como em nenhuma das minhas fantasias, não vivi nenhum dos diálogos que planejei pra esse momento, e posso dizer que estava completamente despreparada para recebê-lo. Mas sabe... ainda bem que foi assim. Se tivesse acontecido com a praticidade que minha mente limitada e temerosa propunha, talvez hoje eu não estivesse tomada pelo sentido da mais piégas das palavras, aquela que sempre é rimada com coração, e talvez não fizesse voz diferente ao telefone, não chorasse com histórias românticas nem entendesse o que realmente significa saudade.

E eu descobri que a cética eu, ama cada uma dessas coisas, tanto quanto ama o amado e amor segundo nós.


Ela

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Plebiscito Popular pelo Limite a Propriedade da Terra

"Entre 1 e 10 de setembro o Fórum Nacional da Reforma Agrária e Justiça no Campo promoverá, em todo o Brasil, o plebiscito pelo limite da propriedade rural. Mais de 50 entidades que integram o Fórum farão da Semana da Pátria e do Grito dos Excluídos, celebrado todo 7 de setembro, um momento de clamor pela reforma fundiária em nosso país.

Vivem hoje na zona rural brasileira cerca de 30 milhões de pessoas, pouco mais de 16% da população do país. O Brasil apresenta um dos maiores índices de concentração fundiária do mundo: quase 50% das propriedades rurais têm menos de 10 ha (hectares) e ocupam apenas 2,36% da área do país. E menos de 1% das propriedades rurais (46.911) têm área acima de 1 mil ha cada e ocupam 44% do território (IBGE 2006).


As propriedades com mais de 2.500 hectares são apenas 15.012 e ocupam 98,5 milhões de ha: 28 milhões de hectares a mais do que quase 4,5 milhões de propriedades rurais com menos de 100 ha.

Diante deste quadro de grave desigualdade, não se pode admitir que imensas propriedades rurais possam pertencer a um único dono, impedindo o acesso democrático à terra, que é um bem natural, coletivo, porém limitado.


O objetivo do plebiscito é demonstrar ao Congresso Nacional que o povo brasileiro deseja que se inclua na Constituição um novo inciso limitando a propriedade da terra - princípio adotado por vários países capitalistas - a 35 módulos fiscais. Áreas acima disso seriam incorporadas ao patrimônio público e destinadas à reforma agrária.

O módulo fiscal serve de parâmetro para classificar o tamanho de uma propriedade rura
l, segundo a lei 8.629 de 25/02/93. Um módulo fiscal pode variar de 5 a 110 ha, dependendo do município e das condições de solo, relevo, acesso etc.. É considerada pequena propriedade o imóvel com o máximo de quatro módulos fiscais; média, 15; e grande, acima de 15 módulos fiscais.

Um limite de 35 módulos fiscais equivale a uma área entre 175 ha (caso de imóveis próximos a capitais) e 3.500 ha (como na região amazônica). Apenas 50 mil entre as cinco milhões de propriedades rurais existentes no Brasil se enquadram neste limite. Ou seja, 4,950 milhões de propriedades têm menos de 35 módulos fiscais.


O tema foi enfatizado pela Campanha da Fraternidade 2010, promovida pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Todos os dados indicam que a concentração fundiária expulsa famílias do campo, multiplica o número de favelas e a violência nos centros urbanos. Mais de 11 milhões de famílias vivem, hoje, em favelas, cortiços ou áreas de risco.

Nos últimos 25 anos, 1.546 trabalhadores rurais foram assassinados no Brasil; 422 presos; 2.709 famílias expulsas de suas terras; 13.815 famílias despejadas; e 92.290 famílias envolvidas em conflitos por terra! Foram registradas ainda 2.438 ocorrências de trabalho escravo, com 163 mil trabalhadores escravizados.


Desde 1993, o Grupo Móvel do Ministério do Trabalho libertou 33.789 escravos. De 1.163 ocorrências de assassinatos, apenas 85 foram a julgamento, com a condenação de 20 mandantes e 71 executores. Dos mandantes, somente um se encontra preso, Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, um dos mandantes da eliminação da irmã Dorothy Stang, em 2005.


Tanto o plebiscito quanto o abaixo-assinado visam a aprovar a proposta de emenda constitucional (PEC 438) que determina o confisco de propriedades onde se pratica trabalho escravo, bem como limites à propriedade rural. As propriedades confiscadas seriam destinadas à reforma agrária.

Embora o lobby do latifúndio apregoe as "maravilhas" do agronegócio, quase todo voltado à exportação e não ao mercado interno, a maior parte dos alimentos da mesa do brasileiro provém da agricultura familiar. Ela é responsável por toda a produção de verduras; 87% da mandioca; 70% do feijão; 59% dos suínos; 58% do leite; 50% das aves; 46% do milho; 38% do café; 21% do trigo.


A pequena propriedade rural emprega 74,4% das pessoas que trabalham no campo. O agronegócio, apenas 25,6%. Enquanto a pequena propriedade ocupa 15 pessoas por cada 100 ha, o agronegócio, que dispõe de tecnologia avançada, somente 1,7 pessoas."

Frei Betto


Está tendo votação de 10h às 20h no 4º e 9º andares da UERJ. Se você vir algum posto do plebiscito não se acanhe, vote. Vamos nos fazer ouvir e tentar diminuir um pouco a desigualdade em nosso país.



Ele e Ela