segunda-feira, 30 de maio de 2011

Aprovação do novo Código Florestal e Žižek no Brasil

A última semana, de 22 a 28 de maio, foi deveras conturbada. Inúmeros acontecimentos espalhados pelo mundo inteiro invadiram os noticiários, principalmente através das redes sociais. Diante da opressão do Estado burguês a manifestação de trabalhadores em Barcelona, o assassinato de militantes camponeses em Rondônia e no Rio de Janeiro, a aprovação do novo Código Florestal na Câmara dos Deputados e a palestra do filósofo marxista Slavoj Žižek, me deixando desnorteado sem saber decifrar a enxurrada de idéias, revolta e tristeza que tomam conta dos meus pensamentos.

Como um boxer que se recupera de um duro golpe, tento organizar neste texto ao menos parte desta confusão mental, visto que todos os acontecimentos de uma maneira ou de outra encontram-se interligados, não custa lembrar mais uma vez que Marx nos alertou para a importância da totalidade, não vou aqui atribuir um valor exagerado ao acontecimento a ou b, pelo contrário, vou fazer uma breve análise apenas de um dos fatos mencionado a luz das idéias que recentemente me conquistaram desse eslavo Žižek.

Escolhi a aprovação do Novo Código Florestal por um simples motivo, ainda não havíamos discutido a temática neste blog. Já a escolha das idéias do intelectual eslavo para fazer a intermediação com o tema são ainda mais óbvias, todas presentes na sua palestra no último dia 24 de maio no Rio de Janeiro, na qual fui um atento e surpreso ouvinte.

Sem nenhuma surpresa (ainda mais com a implosão de escândalos envolvendo o governo, no caso do ministro Palocci), entretanto com muita tristeza e revolta que tomei conhecimento da vitória esmagadora do novo Código Florestal na Câmara dos Deputados (410 votos a favor e apenas 63 contra). Mas não vou aqui tratar de desmesuras políticas e morais dos nossos deputados, isso a nossa imprensa faz com propriedade. Quero dar alguns passos para traz e vislumbrar a problemática a partir de uma perspectiva mais ampla fazendo a seguinte questão: qual é a relação da aprovação do novo código e a crise ambiental na qual nos vivemos?

Para alguns pode até ser surpreendente a aprovação de um código que amplia as áreas de desmatamento na Amazônia, que padroniza a 15 metros a faixa de proteção de matas ciliares (matas ao longo dos cursos de rios) tanto para rios caudalosos como o Amazonas quanto para pequenos riachos e córregos, que regulamenta o cultivo em encostas e topos de morros e que anistia desmatadores, em um momento de crise ambiental no qual a nota principal é criar alternativas para tudo acima mencionado. Para mim parece muito óbvio. O modo de produção capitalista não vê limites para saciar sua fome de lucratividade, o metabolismo destruidor do capital, na sua essência, não encara a natureza como um fim, pelo contrário, considera um recurso a ser explorado ou reservado para futura valorização e exploração.

É nesse sentido que Zizek passa a acompanhar o nosso raciocínio, não podemos pensar que o senhor Eike Batista, 8º homem mais rico do mundo, dono de mineradoras e petroleiras pode pensar em limite para suas atividades, uma utilização “racional” destes recursos é igual a uma menor lucratividade. Ou pensar catástrofes ambientais como a ocorrida no Golfo do México como uma questão de irresponsabilidade da British Petroleum, como se a questão fosse moral da “boa” ou “má” companhia, da ambientalmente responsável ou a inescrupulosa e irracional. A questão é muito clara, para os dois casos, vivemos um modo de produção de nos impele a sugar ao máximo os recursos, ir até os limites impostos pela técnica para manter e aumentar as taxas de lucro das grandes companhias e as conseqüências são meros detalhes.

Detalhes, entretanto, bem inconvenientes, mas é ai que entra a ideologia dominante. Para desconstruí-la vou recorrer mais uma vez a Zizek, que nos diz que a ecologia é um problema não pelo que é dito (catástrofes, aquecimento global, etc), mas sim pelo que não é dito, ou seja, de que forma o discurso ambiental é utilizado como uma ferramenta política (ideologia). Em primeiro lugar, essa idéia de que o HOMEM está acabando com o equilíbrio presente na natureza e que precisamos restabelecê-lo é completamente irracional. A natureza não está em equilíbrio, ela é dinâmica, compreendida a partir de processos de destruição e construção (visto o tsunami no Japão). Essa visão irreal só nos afasta dos verdadeiros problemas, como é o caso de alguns movimentos ambientalistas que não tem compromisso nenhum com a transformação da sociedade.

Em segundo lugar, essa espécie de ambientalismo individual do “cada um faz a sua parte” separando o lixo para a reciclagem, usando “ecobag” e comprando alimentos orgânicos para salvar a natureza. Não que essas atitudes não sejam importantes, mas será que acreditamos mesmo que isso vai realmente mudar alguma coisa? Zizek afirma que funciona como ideologia, como por exemplo, quando assistimos a um jogo de futebol na televisão e esbravejamos com os jogadores, orientamos o time e ofendemos o juiz, sabemos que não podemos influenciar em nada na partida, mas queremos acreditar que sim. É o que acontece com as iniciativas individuais de “consumo consciente”, que sabemos que dificilmente mudaríamos algo, até porque os carros continuam nas ruas, a agricultura vive a base de petróleo (máquinas e insumos – NPK) e agrotóxicos, as indústrias metabolizam combustíveis fósseis, mas tais medidas nos fazem sentirmo-nos melhor, afinal, “estamos fazendo a nossa parte” mesmo que isso nunca vá efetivamente resolver o problema.

São nesses termos que encaro a aprovação do Novo Código Florestal, que sob o discurso de um uso sustentável, da geração de empregos e do desenvolvimento da nação, quebra-se mais uma barreira para o avanço do capital em nosso território. As grandes multinacionais, ruralistas e a burguesia em geral comemoram mais um passo rumo ao “uso sustentável que garanta o desenvolvimento de nosso país”. Sendo assim, em termos ambientais, o novo código nos remete ao título da palestra de Slavoj Žižek no Brasil: “a situação é catastrófica, mas não é grave”.


Ele

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Carta aos Nossos Primeiros Heróis

Tem dias em que nos deprimimos, cientes da nossa voz em minoria, da nossa desarticulação enquanto grupo, da clareza dos nossos temores. Mas incrivelmente, com uma força que só a sensibilidade é capaz de oferecer, a tristeza se supera no pontinho de esperança que ganha um brilho incalculável na mente resolvida em ideologia e vira combustível para a luta. E não importa que nosso sangue tenha sido alimentado durante anos pela direita, quando ele amadureceu se fez livre e oxigenou nossos cérebros com compaixão, inteligência e coragem em praticar ambas. E a tendência, embora muitos terão o prazer de contestar, será o engrandecer, realizar e propagar desses valores.

Netos, filhos do discurso reacionário e fascista, em nossa adolescência encontramos portas abertas para o amor ao próximo e os alicerces para o conhecimento teórico que nos tornariam críticos da realidade e é isso que queremos que nossos filhos herdem. Mais do que olhos, cabelos e traços, mais do que habilidades e gosto para as artes, queremos que eles sejam sensíveis e críticos o que, sendo apenas o mais valioso, não há de constar em testamento.

E é por isso que consiguimos imaginar a dor daqueles que cederam genes para a nossa formação em constatar a desvinculação das nossas ideias das suas próprias, já que é um medo que nos assombra também. Mas podemos garantir que à grande parte disso lhes cabe a culpa, por nos terem tanto recheado o peito de amor que o único destino que nos coube foi o de expandí-lo para os outros seres humanos. Se somos quem somos, se nosso projeto de vida vai além de nós mesmos, também devemos isso a vocês, para seu desgosto e nosso orgulho.

Para além da divisão ideológica, seremos pra sempre sangue dos seus, amor que nasceu e floresceu a partir dos seus corações, mas terão de aceitar que enquanto houver direita, a esquerda integraremos, enquanto existir desigualdade e intolerância, haverá luta e enquanto esta existir, nela estaremos e morreremos.




Sangue do meu sangue, o sangue que hoje corre em minhas veias é uma variação do seu, mas as ideias que interligam minha mente e coração se desconectaram de você e encontraram paz na luta pelo próximo, sem levar contudo, o meu amor de menina.

O primeiro herói, a gente nunca esquece.

Ela