segunda-feira, 29 de março de 2010

Nas Terras do Bem Virá


Hoje não vou discorrer sobre mais uma opinião minha ou nossa. Vou apenas fazer uma recomendação de um filme que mexeu muito conosco quando o vimos pela primeira vez na TV Brasil, há mais de um ano atrás. Aqui eu vou deixar apenas o trailer, mas o arquivo completo pode ser baixado por esses sites de download da vida, ou mesmo visto em partes pelo youtube.

Uma breve sinopse:

"Nas Terras do Bem Virá" se trata de um documentário realizado por Alexandre Rampazzo e Tatiana Polastri, gravado em 29 cidades de cinco estados do norte e nordeste brasileiro e que aborda entre outros assuntos, o modelo de colonização da Amazônia, o massacre de Eldorado do Carajás, o assassinato da missionária Dorothy Stang e o ciclo do trabalho escravo.


Aqui tem dois sites que encontrei com o arquivo do filme, mas não sei qual a qualidade deles. Espero que ajude quem se interessar em assistir a obra na íntegra, vale muito a pena.

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Quem assistir e tiver vontade de discutir algumas idéias, sinta-se à vontade. Afinal, esse aqui é um espaço feito para todas elas.


Ela

segunda-feira, 22 de março de 2010

Quem Aponta a Direção?

Seria possível um mundo pós-capitalista?

Com tudo dito na postagem anterior é difícil não pensar na inviabilidade da superação do capitalismo. Foi pensando na resposta que muitas vezes foi dada a essa pergunta, "O mundo é assim mesmo não vai mudar! Tudo isso é uma utopia!", que resolvi postar essa matéria.

A resposta que tenho para dar a essas pessoas que acreditam no inexorável destino da humanidade entregue ao modo de produção capitalista é que a mudança não é nenhuma novidade na história da humanidade. O mundo mudou muitas vezes, impérios praticamente indestrutíveis que duraram séculos, até milênios, sucumbiram e novas hegemonias emergiram por mais séculos.

O capitalismo é apenas uma criança se compararmos com os demais modos de produção que o antecederam, porém sua voraz capacidade destrutiva e inovadora tornam-no um caso a parte na sociedade. Em quase 300 anos de história o capitalismo destruiu ¼ das reservas naturais do planeta e relegou boa parte do globo a seu sistema desigual onde os 7 países mais ricos possuem a batuta que rege a economia mundial.

Hoje possuímos um conjunto de técnicas, nunca antes visto na história, que pode efetivamente acabar com fome e miséria no nosso planeta. Mas, por outro lado, o número de pessoas que não possuem os bens necessários para a vida aumenta a proporções alarmantes!

É mais do que possível mudar, é necessário! A roda da história não pára, o mundo irá continuar mudando, o que nós devemos nos questionar é com quem está as rédeas da mudança? Quem aponta a direção?
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Ele

terça-feira, 9 de março de 2010

Porque não foi sempre assim.


'Por que é preciso pensar em uma transição anti-capitalista? E o que seria tal transição? A participação de David Harvey, professor de Geografia e Antropologia da City University, de Nova York, no seminário de avaliação de 10 anos do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, foi uma tentativa de responder estas perguntas. A resposta, na verdade, inclui, em primeiro lugar, uma justificativa da pertinência das perguntas. Após a derrocada da União Soviética e dos regimes socialistas do Leste Europeu, e a queda do Muro de Berlim, falar em anti-capitalismo tornou-se proibido. O comunismo fracassou, o capitalismo triunfou e não se fala mais no assunto: essa mensagem cruzou o planeta adquirindo ares de senso comum. Mas os muros do capitalismo seguiram em pé e crescendo. E excluindo, produzindo pobreza, fome, destruição ambiental, guerra...



E eis que, nos últimos anos, voltou a se falar em anti-capitalismo e na necessidade de pensar outra forma de organização econômica, política e social. David Harvey veio a Porto Alegre falar sobre isso. Para ele, a necessidade acima citada repousa sobre alguns fatos: o aumento da desigualdade social, a crescente corrupção da democracia pelo poder do dinheiro, o alinhamento da mídia com este grande capital (e seu conseqüente papel de cúmplice na corrupção da democracia), a destruição acelerada do meio ambiente. Esse cenário exige uma resposta política, resume Harvey. Uma resposta política, na sua avaliação, de natureza anti-capitalista. Por que? O autor de “A produção capitalista do espaço” apresenta alguns fatos de natureza econômica para justificar essa afirmação.

O capital fictício e a fábrica de bolhas

O capitalismo, enquanto sistema de organização econômica, está baseado no crescimento. Em geral, a taxa mínima de crescimento aceitável para uma economia capitalista saudável é de 3%. O problema é que está se tornando cada vez mais difícil sustentar essa taxa sem recorrer à criação de variados tipos de capital fictício, como vem ocorrendo com os mercados de ações e com os negócios financeiros nas últimas duas décadas. Para manter essa taxa média de crescimento será preciso produzir mais capital fictício, o que produzirá novas bolhas e novos estouros de bolhas. Um crescimento composto de 3% exige investimentos da ordem de US$ 3 trilhões. Em 1950, havia espaço para isso. Hoje, envolve uma absorção de capital muito problemática. E a China está seguindo o mesmo caminho, diz Harvey.

As crises econômicas nos últimos 30 anos, acrescenta, repousam (e, ao mesmo tempo, aprofundam) na disjunção crescente entre a quantidade de papel fictício e a quantidade de riqueza real. “Por isso precisamos de alternativas ao capitalismo”, insiste. Historicamente essas alternativas são o socialismo ou o comunismo. O primeiro acabou se transformando em uma forma menos selvagem de administração do capitalismo; e o segundo fracassou. Mas esses fracassos não são razão para desistir até por que as crises do capitalismo estão se tornando cada vez mais freqüentes e mais graves, recolocando o tema das alternativas. Para Harvey, o Fórum Social Mundial, ao propor a bandeira do “outro mundo é possível”, deve assumir a tarefa de construir um outro socialismo ou um outro comunismo como alternativas concretas.

A irracionalidade do capitalismo

“Em tempos de crise, a irracionalidade do capitalismo torna-se clara para todos. Excedentes de capital e de trabalho existem lado a lado sem uma forma clara de uni-los em meio a um enorme sofrimento humano e necessidades não satisfeitas. Em pleno verão de 2009, um terço dos bens de capital nos Estados Unidos permaneceu inativo, enquanto cerca de 17 por cento da força de trabalho estava desempregada ou trabalhando involuntariamente em regimes de meio período. O que poderia ser mais absurdo que isso!” – escreve Harvey em seu livro “O enigma do capital”, que deve ser lançado em abril de 2010 pela editora Profile Books. Ele descarta, por outro lado, qualquer inevitabilidade sobre o futuro do capitalismo. O sistema pode sobreviver às crises atuais, admite, mas a um custo altíssimo para a humanidade.

Não basta, portanto, denunciar a irracionalidade do capitalismo. É importante lembrar, assinala Harvey, o que a Marx e Engels apontaram no Manifesto Comunista a respeito das profundas mudanças que o capitalismo trouxe consigo: uma nova relação com a natureza, novas tecnologias, novas relações sociais, outro sistema de produção, mudanças profundas na vida cotidiana das pessoas e novos arranjos políticos institucionais. “Todos esses momentos viveram um processo de co-evolução. O movimento anti-capitalista tem que lutar em todas essas dimensões e não apenas em uma delas como muitos grupos fazem hoje. O grande fracasso do comunismo foi não conseguir manter em movimento todos esses processos. Fundamentalmente, a vida diária tem que mudar, as relações sociais têm que mudar”, defende.

“Precisamos falar de um mundo anti-capitalista”

Harvey está falando da perspectiva de um possível fracasso do capitalismo, de um ponto de instabilidade que afete as engrenagens do sistema. Mais uma vez, ele não aponta nenhuma inevitabilidade ou destino histórico aqui. Trata-se de um diagnóstico sobre o tempo presente. “O capitalismo entrou numa fase de cada vez mais destruição e cada vez menos criação”. E quais seriam, então, as forças sociais capazes de organizar um movimento anti-capitalista nos termos descritos acima? A resposta de Harvey é curta e direta: Hoje não há nenhum grupo pensando ou falando disso. “As ONGs e movimentos sociais que participam do Fórum precisam começar a falar de um mundo anti-capitalista. A esquerda deve mudar seus padrões mentais. As universidades precisam mudar radicalmente”.

A justificativa desses imperativos? Harvey dá mais um exemplo da “racionalidade” capitalista atual. Em janeiro de 2008, 2 milhões de pessoas perderam suas casas nos EUA. Essas famílias, em sua maioria pertencente às comunidades afroamericanas e de origem hispânica, perderam, no total, cerca de 40 bilhões de dólares. Naquele mesmo mês, Wall Street distribuiu um bônus de 32 bilhões de dólares para aqueles “investidores” que provocaram a crise. Uma forma peculiar de redistribuição de riqueza, que mostra que, nesta crise, muitos ricos estão fincando ainda mais ricos. “Estamos vivendo um momento de negação da crise nos EUA. Os trabalhadores, e não os grandes capitalistas, é que estão sendo apontados como responsáveis. É por isso que precisamos de uma transformação revolucionária da ordem social”.'

Marco Aurélio Weissheimer
www.cartamaior.com.br
26/01/2010

terça-feira, 2 de março de 2010

Aquele Dia Em Que Outra Vida Acabou - Parte III

Tudo bem, eu não morri, está tudo bem e essa história é apenas uma ficção. Pelo menos até a parte da volta do shopping.

A verdade é que tanto eu, quanto Ele, somos dois enrolados e distraídos. A nova placa com os caminhos do metrô dizia que teríamos que saltar na estação Central, mas não dizia que após as 21h, a transferência é feita na estação Estácio de sempre, o que descobrimos quando saltamos na estação errada. Tivemos que esperar o próximo carro para voltarmos e desembarcarmos na certa. Na saída do shopping, ao invés de sairmos pelo caminho mais curto, acabamos dando uma volta inteira nele e na volta pelo metrô, conversávamos tão entretidos que nos encaminhamos para a plataforma certa, mas quando o primeiro carro chegou na plataforma para o outro sentido, entramos nele sem perceber. O equívoco só ficou aparente na estação seguinte, mas tarde demais para que descêssemos nela e outra vez acabamos na Central. No fim, antes de irmos pra casa, ainda passamos no mercado rapidamente pra levar suprimentos para o domingo, o que fechou nossa sessão de pequenos desvios de tempo.

A questão é que esse pequenos desvios, conspiraram ou aconteceram de forma que chegássemos apenas alguns minutos depois de todo o episódio de violência ter se desenrolado e, embora nada tenha acontecido comigo, ou com Ele, esse foi sim, mais um dia em que uma vida acabou abruptamente em meio a um tiroteio, a vida da Miriam Santos Souza, funcionária de um salão de beleza que provavelmente estava apenas voltando pra casa após mais um dia de trabalho e que possivelmente deixou marido e filhos desolados com a perda repentina e angustiados pela impotência diante da situação.

Matéria completa do "O Dia Online".


É nesse tipo de circunstância, principalmente, que entra o “se”. E “se” não isso e “se” aquilo, quem sabe? Enquanto a vida preencheu a Nossa noite de “ses”, evaziou a da Miriam com um ponto final. E é claro que isso rendeu a nós dois mais uma longa conversa sobre a presença da fatalidade e a não existência de um Deus nos fatos do dia a dia de nós humanos, mas não vou entrar nesses méritos. A grande questão que enxergo nisso tudo é a de que, muito provavelmente você está lendo isso e pensando: “Que bandidos miseráveis, filhos duma égua!” (Ok, não necessariamente com este vocabulário) e de fato, é como a maior parte das pessoas pensa ou pensaria. “Levaram um fim merecido. Bandido bom é bandido morto”. E eu não vou, de forma alguma defender a barbárie que é tirar a vida de alguém, mas também acredito que é fácil cortar a linha de raciocínio por aí. “Joguemos uma bomba na favela e pronto, resolvido”, já ouvi algumas vezes quem dissesse isso e não culpo, somos induzidos a tal muitas vezes. Mas se pararmos e pensarmos mais a fundo sobre o assunto, talvez encontremos problemas no alicerce do sistema em que vivemos, um sistema que privilegia, que segrega, que renega. E quem tem a sorte de não nascer perto ou dentro da parte que é segregada e renegada por ele, dá continuidade a esse processo por meio do preconceito.

Digo sorte por que é no que acredito, talvez você acredite que nasceu longe da violência “graças a Deus” e que merece seu berço tanto quanto o pobre merece dormir no chão. Talvez acredite que só o esforço deste compensará e o tirará dessa vida, mesmo que você nunca tenha se esforçado para se manter na escola, para agüentar a fome, para dormir apesar dos tiros e do medo tão próximos. De fato, alguns conseguem se livrar de tudo isso pelo esforço, pelo sacrifício, para então integrar a nata do sistema e contribuir para a permanência dele.

Me parece uma contradição sem tamanho alguém crer que exista um deus que ame a todos os seus filhos de forma igual e que esse mesmo deus, privilegie uns mais do que outros já no berço, no único momento em que não se tem culpa de nada. O problema, está nos homens que tendem ao egoísmo, embora dotados de inteligência para afastar essa característica das suas ações e assim, atingir a humanidade. O sistema em que vivemos é baseado nesse lado primitivo que se tornou a base do nosso pensar moderno e razão do existir de tantos pensamentos como o de que é exclusivamente culpa do pobre a sua própria miséria e seu enveredar para a criminalidade. Sinceramente, não consigo ver idéia mais segregadora que esta.

Enfim... vou parar por aqui por hoje. Talvez um dia me alongue no assunto, que considero tão importante de se discutir, mas até lá, quem quiser, avalie a possibilidade do que escrevi fazer algum sentido e de difundir um pouco essa idéia de que a violência tem influência direta do sistema em que vivemos, da desigualdade e da falta de humanidade entre os homens, e quem sabe um dia, não será tão alto o número de vidas a acabar tão repentinamente e nem o de pessoas que sofrem lentamente as dificuldades de uma vida que não podem escolher. Quem discordar, tudo bem. Entre tantas mil maneiras de se pensar, a minha é apenas mais uma e respeito as que diferem dela, pois não pretendo mudar a cabeça de ninguém, mas quem sabe, abrir algumas...

... é apenas uma idéia.

Ela