quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Uma Insurreição às Escuras

Nos últimos dias estamos sendo bombardeados com efusivas notícias acerca do grandioso movimento popular que vem se arquitetando no Egito para depor o então presidente e ditador Hosni Mubarak. Todo esse movimento midiático desenvolveu em mim uma larga desconfiança sobre os verdadeiros fins de tal processo histórico. Parafraseando o excelente título do filme documentário “A Revolução não será televisionada” dos irlandeses Kim Bartley e Donnacha O’Briain, suspeito seriamente de qualquer apoio dado pela imprensa e da pseudo “comunidade internacional” ao movimento popular. Meu ceticismo acerca dos resultados e benefícios à população da insurreição deposicionista foram parcialmente confirmados quando pela manhã deparo-me com a seguinte notícia no sitio do globo.com, um veículo de idoneidade inquestionável (para os que não me conhecem, deixo explicito o meu tom sarcástico!):



A fim de compreender melhor essa janela histórica que se descortina sob os nossos olhos recorro a um clássico autor marxista, Leon Trotsky. O autor da teoria da revolução permanente, em um livro homônimo, oferece-nos um arcabouço teórico que permite compreender tal processo histórico com outros olhos. Com todas as limitações que este veículo me impõe, arrisco-me a uma humilde análise de um fragmento do ideário trotskista acerca da união revolucionária entre camponeses, proletários e a pequena burguesia.

“Mas, esse fato essencial se realizou, também, em todas as revoluções vitoriosas ou semivitoriosas, sem exceção. Sempre por toda a parte, os proletários ou seus precursores, os plebeus e os camponeses, derrocaram os imperadores, os senhores feudais e os padres (...). Mas o que tem haver com isso a ditadura democrática? As antigas revoluções não a conheceram (...). Por quê? Porque a burguesia ia montada às costas dos operários e dos camponeses que faziam o trabalho ingrato da revolução.” (TROTSKY, 2007, p.124)


Esse breve trecho da obra de Trotsky deixa no ar uma pergunta fundamental para qualquer movimento de transformação na sociedade: quem dirige e quem toma o poder efetivamente? Não é difícil estabelecer uma relação entre as palavras do autor e os atuais acontecimentos no Egito. A população oprimida (esmagadora maioria da sociedade) é a única força política capaz de romper o curso da história, sem de forma alguma ignorar este fato, a minoria opressora, inteligentemente, utiliza a energia revolucionária popular para seguir delineando os meandros da história. Um exemplo? É fácil, 14 milhões de pessoas nas ruas dia a pós dia, semana após semana sob os olhares de aprovação das nações imperialistas (não vamos esquecer que Inglaterra, França, EUA sugaram e sugam com uma sede insaciável o suor dos trabalhadores egípcios) derrubaram um governo que cometeu o grave erro de se opor a quem o mantinha no poder. Quando esse mesmo movimento começa a ter uma iniciativa verdadeiramente progressista e autônoma de reivindicação por melhores salários e condições de trabalho, o novo governo que fora alçado ao poder por essas mesmas forças populares, mostra a sua verdadeira face. Mudam-se os atores, mas o enredo é o mesmo!


É o fim? Muito pelo contrário, mais uma vez as classes oprimidas demonstram a sua força. É uma injeção de adrenalina em nossos ideais de transformação da sociedade. O que temos que nos perguntar agora é quem está com as rédeas dessa carruagem revolucionária e como podemos tomá-la.


O processo histórico no Egito ainda não está terminado, aguardo ansiosamente as cenas dos próximos capítulos!



Ele

Um comentário:

  1. É verdade... quem está coordenando? Muito complicado vi que uma parte da esquerda (carta maior) tava muito empolgada com as revoltas, mas sem nenhuma preocupação para onde caminhava estas revoltas. O próprio Trotsky comenta a respeito disto no livro que vc citou "qual será o núcleo coordenador deste processo?" (não nestas palavras). Lembro que ele diz que os camponeses não poderiam coordenar por razões históricas... Justamente, nestas "janelas históricas" que vejo a importância da educação popular, movimentos sociais e partidos políticos. Caso estas instâncias não estejam conscientes de seus papéis no processo revolucionário, lamentavelmente, a revolta se torna massa de manobra da ideologia dominante que detem armas estratégicas Estado e meio de comunicação. abc

    Gustavo Azevedo

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