segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mais-valia é ultrapassado?


Embora esse instrumento de comunicação não permita o embasamento teórico necessário, sinto-me um tanto quanto instigado a mergulhar na aventura de demonstrar como o conceito de mais-valia ainda é de grande valor elucidativo para compreensão da realidade. Vou recorrer a uma metáfora para facilitar a minha retórica.

O Senhor Eka Bartolomeu, um dos empresários mais ricos do país, investiu 6 milhões de dólares na construção de plataformas para a exploração de petróleo na Bacia de Campinho, uma das maiores reservas petrolíferas do país. José Paulo de Oliveira Costa é técnico em exploração de petróleo em águas profundas e trabalha para o senhor Eka. José é responsável pela operacionalização das máquinas na plataforma e graças ao seu trabalho e dos seu 20 outros companheiros, a produção chega a 60 barris de petróleo ao dia, sendo vendidos a 80 dólares cada no mercado internacional. Se dividirmos os 60 barris produzidos pelo número funcionários teremos 3 barris para cada um,ou seja, 240 dólare
s por trabalhador. Entretanto, cada funcionário ganha no máximo 40 dólares diários, aonde foi parar o restante do dinheiro? No bolso do senhor Eka.

Em outras palavras, o capitalista investe nos meios de produção D, com o intermédio do trabalho o dinheiro investido é transformado em mercadoria M e é vendida D’ (D-M-D’). Entretanto, o trabalhador elemento fundamental para transformação da mercadoria (geração de valor), é desapropriado de parte do seu trabalho pelo capitalista que fica com a maior parte da renda gerada.

Mas o que quero discutir aqui não está presente na charge, nem nos noticiários e crônicas dos principais jornais em circulação e, infelizmente, também está fora da maior parte das aulas de Geografia, História e Sociologia. Fatores como a internacionalização e financeirização da economia, a explosão do setor de serviços e o absurdo desenvolvimento das forças produtivas no campo e nas cidades (robótica, microeletrônica, informática, biotecnologia etc) parecem ter caducado o conceito de mais valia, principalmente, com a força do capital especulativo nas bolsas de valores, na qual o capital gera mais capital sem necessariamente haver a intermediação do trabalho, é dinheiro gerando dinheiro! Aonde fica o trabalho nesse esquema? Não existe mais a mais-valia?

A exploração do trabalho não acabou, pelo contrário, nos últimos anos estamos passando por um período de precarização cada vez maior das relações de trabalho, perda de direitos trabalhistas (vide a reforma previdenciária na França), arrochos salariais, terceirização, etc. Temos hoje uma mais valia globalizada, na qual as grandes empresas transnacionais por intermédio das novas tecnologias de comunicação e transporte são capazes de explorar a mão-de-obra em várias partes do mundo ao mesmo tempo. Elas se deslocam para os lugares com maiores vantagens, salários mais baixos e poucos impostos, a fim de lucrar cada vez mais. Vocês acham que um funcionário da Volkswagen na Alemanha ganha a mesma coisa que no Brasil? Claro que não! Somos nós subdesenvolvidos que sustentamos o desenvolvimento alheio é a exploração da mais-valia globalizada que banca o bem-estar social europeu.

Outro exemplo bem claro de exploração de mais-valia está no cotidiano da maior parte de nós. Quem nunca levou trabalho para casa ou ficou até mais tarde no escritório sem receber um real por isso? E quem trabalha sob regime de metas e chega no final do mês trabalhando nos fins de semanas para cumpri-las? Já pararam para pensar quem está ganhando com o seu esforço? Isso é trabalho não pago galera, é mais-valia!!!

Não se iludam com discursos de pagamento por produtividade, bônus por resultados em testes (como é o caso do ensino público em São Paulo), estas práticas são eufemismo para precarização e superexploração do trabalho!!! Quem ganha por produtividade ou metas é obrigado a trabalhar incessantemente para alcançá-las, quem ganha bônus por desempenho está aceitando uma política inteiramente perversa, pois quem dita o que e como se deve ser premiado não somos nós!!!

Nem de perto esgotei esse debate, só espero com ele, aguçar a curiosidade de todos nós para essa temática e incentivar ação transformadora da nossa realidade!


Ele

3 comentários:

  1. Me senti homenageado pelo Oliveira Costa, hehehehe!
    Muito bom o texto sobre mais-valia, ELE, heheheheee!
    Dá para usar, perfeitamente, com alunos!
    Abração!

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  2. E aii Vinícius,
    gostei do texto! Didático!

    para colaborar:

    O setor financeiro se ergue sobre uma base do setor produtivo! Não há independencia como alguns neoliberais defendem.

    "Somos nós subdesenvolvidos que sustentamos o desenvolvimento". Perfeito. Superar o etapismo das teorias conservadoras burguesas, ou seja, não é que capitalismo brasileiro é uma etapa do capitalismo europeu.

    Galeano:
    "Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um em que alguns países
    especializam-se em ganhar, e outro em que se especializaram em perder. Nossa comarca
    do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder
    desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar
    e fincaram os dentes em sua garganta. Passaram os séculos, e a América Latina aperfeiçoou
    suas funções"

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  3. Muito bom texto!Escreva nas férias tbm rs Demorando novo post!

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