segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mais-valia é ultrapassado?


Embora esse instrumento de comunicação não permita o embasamento teórico necessário, sinto-me um tanto quanto instigado a mergulhar na aventura de demonstrar como o conceito de mais-valia ainda é de grande valor elucidativo para compreensão da realidade. Vou recorrer a uma metáfora para facilitar a minha retórica.

O Senhor Eka Bartolomeu, um dos empresários mais ricos do país, investiu 6 milhões de dólares na construção de plataformas para a exploração de petróleo na Bacia de Campinho, uma das maiores reservas petrolíferas do país. José Paulo de Oliveira Costa é técnico em exploração de petróleo em águas profundas e trabalha para o senhor Eka. José é responsável pela operacionalização das máquinas na plataforma e graças ao seu trabalho e dos seu 20 outros companheiros, a produção chega a 60 barris de petróleo ao dia, sendo vendidos a 80 dólares cada no mercado internacional. Se dividirmos os 60 barris produzidos pelo número funcionários teremos 3 barris para cada um,ou seja, 240 dólare
s por trabalhador. Entretanto, cada funcionário ganha no máximo 40 dólares diários, aonde foi parar o restante do dinheiro? No bolso do senhor Eka.

Em outras palavras, o capitalista investe nos meios de produção D, com o intermédio do trabalho o dinheiro investido é transformado em mercadoria M e é vendida D’ (D-M-D’). Entretanto, o trabalhador elemento fundamental para transformação da mercadoria (geração de valor), é desapropriado de parte do seu trabalho pelo capitalista que fica com a maior parte da renda gerada.

Mas o que quero discutir aqui não está presente na charge, nem nos noticiários e crônicas dos principais jornais em circulação e, infelizmente, também está fora da maior parte das aulas de Geografia, História e Sociologia. Fatores como a internacionalização e financeirização da economia, a explosão do setor de serviços e o absurdo desenvolvimento das forças produtivas no campo e nas cidades (robótica, microeletrônica, informática, biotecnologia etc) parecem ter caducado o conceito de mais valia, principalmente, com a força do capital especulativo nas bolsas de valores, na qual o capital gera mais capital sem necessariamente haver a intermediação do trabalho, é dinheiro gerando dinheiro! Aonde fica o trabalho nesse esquema? Não existe mais a mais-valia?

A exploração do trabalho não acabou, pelo contrário, nos últimos anos estamos passando por um período de precarização cada vez maior das relações de trabalho, perda de direitos trabalhistas (vide a reforma previdenciária na França), arrochos salariais, terceirização, etc. Temos hoje uma mais valia globalizada, na qual as grandes empresas transnacionais por intermédio das novas tecnologias de comunicação e transporte são capazes de explorar a mão-de-obra em várias partes do mundo ao mesmo tempo. Elas se deslocam para os lugares com maiores vantagens, salários mais baixos e poucos impostos, a fim de lucrar cada vez mais. Vocês acham que um funcionário da Volkswagen na Alemanha ganha a mesma coisa que no Brasil? Claro que não! Somos nós subdesenvolvidos que sustentamos o desenvolvimento alheio é a exploração da mais-valia globalizada que banca o bem-estar social europeu.

Outro exemplo bem claro de exploração de mais-valia está no cotidiano da maior parte de nós. Quem nunca levou trabalho para casa ou ficou até mais tarde no escritório sem receber um real por isso? E quem trabalha sob regime de metas e chega no final do mês trabalhando nos fins de semanas para cumpri-las? Já pararam para pensar quem está ganhando com o seu esforço? Isso é trabalho não pago galera, é mais-valia!!!

Não se iludam com discursos de pagamento por produtividade, bônus por resultados em testes (como é o caso do ensino público em São Paulo), estas práticas são eufemismo para precarização e superexploração do trabalho!!! Quem ganha por produtividade ou metas é obrigado a trabalhar incessantemente para alcançá-las, quem ganha bônus por desempenho está aceitando uma política inteiramente perversa, pois quem dita o que e como se deve ser premiado não somos nós!!!

Nem de perto esgotei esse debate, só espero com ele, aguçar a curiosidade de todos nós para essa temática e incentivar ação transformadora da nossa realidade!


Ele

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Eleição Presidencial de 2010

Sei que estamos um pouco atrasados com relação ao evento, mas a questão ainda é atual e assim promete ser por um bom tempo. Sim, vamos falar sobre eleições no Brasil e com isso, falar um pouco do mundo.

Essa foi sem dúvida a eleição das redes sociais, primeira vez em que um evento desse acontece com tanto espaço para as pessoas bradarem o que pensam e debaterem idéias em twitter, facebook e afins. Isso poderia ter sido algo maravilhoso, mas pra mim, foi um tanto quanto decepcionante. Descobri que muita gente, muitos amigos inclusive, tem o discurso que promove a desigualdade entre os seres humanos e os conseqüentes privilégios para uma minoria da população. Mas tudo bem, faz parte do convívio social aceitar o que as pessoas pensam, por mais antagônico que isso seja aos seus próprios pensamentos, mas eu gostaria de ter ouvido mais discursos próprios e a presença de mais informação na construção desses mesmos discursos.

Eu votei na Dilma. Estou feliz com a vitória? Não, não estou, não votei nela no primeiro turno e não, também não votei na Marina. Mas não estou triste como estaria se o Serra tivesse sido o presidente eleito. Sem querer desmerecê-lo como pessoa, mas simplesmente não acredito no liberalismo. Não acredito em crescimento econômico, não acredito no capital, não acredito que o atual sistema possa ser adaptado para diminuir a desigualdade social, uma vez que esta é base para a sua existência e permanência. Acredito que o mundo precisa de uma mudança completa e urgente, pois há uma inversão enorme de valores nele que nos torna uma sociedade extremamente individualista e eu tampouco acredito no individualismo. Sim, eu sou de esquerda, acredito na revolução que não significa, como tanta gente gosta de relacionar, violência. Algumas pessoas verão então, que tampouco acredito no PT.

Durante esse segundo turno ouvi alguns comentários relacionados a comunismo, partidos e políticos de esquerda, governos que defendem movimentos sociais como o MST, e tive a impressão de estar ouvindo sobre a eleição em um outro lugar, que não consigo imaginar qual seja, mas que parece algum onde eu gostaria de estar. A eleição que aconteceu aqui em nada tem que ver com comunismo, ou qualquer outro proposta de esquerda, foi mais uma entre tantas manifestações do capitalismo. Com uma diferença que foi a escolha entre a praticamente total negligência com quem mais sofre com o sistema e a assistência mínima a algumas dessas pessoas. Como eu disse anteriormente, não é no que acredito, em pequenas mudanças em um sistema desigual por natureza, essa não é a solução. Devia ser uma medida provisória, até que não fosse mais necessário alguém precisar dela, mas não é, não estamos caminhando pra uma mudança tão grande que acabe com os miseráveis do Brasil e do mundo.

O atual governo foi e é voltado para nós, privilegiados, que somos minoria e assim também será o próximo, mas ao menos não é um governo que nega a situação indigna em que vivem tantos brasileiros e nem que atribui isso unicamente a capacidade individual de obter “sucesso”. Como eu disse, com a Dilma, nada realmente muda, principalmente para nós, classe média que não passa fome. Tampouco muda a corrupção que domina a política brasileira desde seus primórdios e que, caso não lembrem os desmemoriados, dominou o último governo do PSDB, ainda que este também tenha sido importante para o país. Para o fim desse mal, é preciso que se acabe com a mentalidade que movimenta a desigualdade, a cultura do lucro. O dia em que a política governamental tiver como fim as pessoas e não o dinheiro, não precisaremos nos preocupar com corrupção.

Eu sei que muita gente vai ler isso aqui e pensar em idealismo e associar a ingenuidade, mas eu associo a informação e a um elemento maravilhoso do qual somos capazes, mas que não é valorizado no capitalismo, eu associo a humanidade, nossa capacidade de agir enquanto seres humanos e para os seres humanos. Também vai ter quem pense em defesa desse sistema com argumentos como o da propriedade privada, da livre competição, do direito ao lucro, ao consumo, a importância da economia como única forma de movimentar o mundo, não sobrando nenhuma outra alternativa, como se ele tivesse brotado assim e nunca tivesse mudado na história e como se tudo isso significasse progresso. Mas como eu já disse, não acredito em nada disso. Eu acredito em mudança, acredito em conscientização e mobilização social, em dignidade, em solidariedade.

Eu acredito que o bem de maior valor nesse mundo é a vida.


Ela

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O Amor Segundo Eu

É engraçado como algumas coisas acontecem. Já há algum tempo tento escrever sobre esse assunto, mas sempre faltava uma certa inspiração palavrista, algo que pusesse minhas idéias em formato de texto. E foi assistindo a uma comédia romântica meia boca que ela enfim veio, inspirante. Tinha de ser, falar sobre amor é sempre brega, só uma fonte de breguice pra despertar idéias bregas a cerca de um assunto que não o é até onde for sentido, mas que quando vira palavra... brega.

Eu quero falar sobre ele, o amor-romântico-sexual, que geralmente tem um objeto único, enquanto que todas as outras formas do sentimento podem ser digamos, mais abrangentes. Minha vontade de falar sobre, veio da grande indagação a cerca do amor: por que raios a maioria esmagadora passa grande parte da vida procurando-o? Quase todos nós já nascemos sendo amados por nosso pais, parente e irmãos e tão logo descobrimos isso, prontamente os amamos de volta. E de quebra, aqueles que acreditam, além do amor seguramente incondicional dos pais, contam com um amor incondicional divino. Então por que, rodeados pelo sentimento mais forte que existe desde que chegamos ao mundo, quem sabe antes disso, por que fazemos questão de nos arriscar em amores que sabemos que sempre poderão nos decepcionar, nos trair, nos arrancar lágrimas por dias a fio? Além da parte ilógica tem a pretenciosa: o objetivo de sermos a pessoa mais importante na vida de alguém, de sermos os únicos a despertar seu desejo e querer sua compania por toda a eternidade. Tantos milênios de evolução celular pra desenvolvermos um raciocínio que tem isso como fim.

Falando assim, parece que sou contra o amor-romântico-sexual, mas garanto que não sou, jamais serei contra um dos mais belos sentimentos, aquele que se aplica basicamente a estranhos, as vezes a quem até outro dia sequer existia pra você. Na verdade eu sou contra a forma como as pessoas costumam procurar isso, como talvez eu já tenha procurado. Vou explicar minhas idéias logo.

O ser humano é extremamente sociável, alguns estudos dizem que incapaz de encontrar a felicidade sem compania. Além disso, ele desenvolveu o que outros animais jamais desenvolveram, o ego. Então, o homem precisa de um semelhante por perto, alguém que seja um companheiro em praticamente todos os momentos, alguém com quem contar, alguém pra se apoiar. O desenvolvimento do ego, a consciência do ser gerou então, a necessidade de ser amado pelo que é, enquanto humano. Ok, até aí tudo bem, mas o amor materno pode muito bem desempenhar essa função. Bom, o ego têm outros problemas que têm sua matriz na urgência de nos sentirmos especiais e, embora mamãe nos diga que o somos a todo momento, só conseguimos sentir de verdade quando conquistamos o amor. Sim, nossos pais e famílias nos amaram muito antes de sermos. Mas agora que somos, será que alguém no mundo, um desconhecido, é capaz de conhecer nossos pensamentos mais íntimos, decorar nossos corpos e ainda assim, amar-nos? Queremos que alguém chegue o mais perto que possível da nossa complexa psique e a compreenda, pra sentirmos que, afinal, fazemos algum sentido.

E ainda tem a questão do que não somos. Como completar o que não somos, mas gostaríamos de ser sem prejudicar nossa essência? E aí surge a idealização, a idolatria, o tudo que o outro pode ser e que jamais seremos, mas que queremos tanto ter contato. É, esse virou o problema do homem com mentalidade ocidental: carência mais ego, juntou uma coisa com outra e batata, o amor se tornou uma verdadeira e obssessiva busca ao tesouro. E é aí que está a questão.

Não quero ser aqui uma pretensiosa dona da verdade, mas pra mim, o grande problema do amor é que as pessoas o veêm como um problema e não como solução. Acho que isso tem muito que ver com nossa cultura consumista, pois o amor começa a ser um problema desde o momento em que idealizamos um objeto amável, atribuindo-lhe características e o transformando num molde imaginário que tentamos encaixar em cada "candidato" que aparece para o posto. O que estamos procurando? Uma camisa pra usar numa festa? O melhor é que fazemos tudo isso sob o pretexto de que somos criteriosos. Mentira, temos problemas com o ego, muitas vezes, nos achamos o máximo.

E quanta pretensão achar que alguém tem que se encaixar nos seus padrões e que você há de se encaixar nos padrões dessa mesma pessoa. Acho que sim, há uma questão fundamental para que o amor dê certo e que não seja só mais um andar em círculos. Todos temos defeitos, todos. O que nos resta enquanto imperfeitos é encontrar quem possa lidar com nossas falhas e que tenha defeitos que possamos suportar ou então, enlouqueceremos e não será no bom sentido. Ou pior, tentaremos podar alguém pra que ele se encaixe naquele velho molde. Outra questão fundamental pro amor pleno é não cair completamente na irracionalidade. A paixão talvez seja inexplicável, mas o amor tem de ter razão em ser. Você não ama um estranho simplesmente porque o viu andando na rua e meu Deus, ele é a minha alma gêmea! Devemos saber exatamente o que amamos numa pessoa, o jeito, os sonhos, as idéias, uma postura, o modo de agir, o sexo, que são coisas que só a convivência revela. Se não soubermos dizer o que é objeto da nossa admiração, então a paixão se perde e no lugar dela, nada sobra.

Eu vejo o amor, muito grossamente, como uma espiral. Os amantes deveriam crescer juntos e seguir sempre em frente, não dar voltas e voltar e acabar no mesmo lugar. E é por isso que digo que uma relação a dois deve ser uma solução, um caminhar junto, uma união. Aceitar que pra lá das muitas afinidades, as diferenças existem e que não precisamos exigir do outro que ele sinta, pense e reaja como nós e achar que se não for assim, ele sente menos. Algumas vezes temos que controlar nosso ego que pode se tornar um veneno para o convívio, formando o ciúme, o sentimento de posse, as cobranças, a intolerância, a imaturidade. É claro que se você gosta do drama do perder, do amor mal resolvido e problemático, se só o conflito consegue manter sua paixão, talvez esse olhar sobre o amor não seja o melhor pra você. Esse é só o amor segundo eu, com certeza há muitas outras formas de se amar, mas confesso que acho difícil associar essas características a durabilidade do amor. Enfim, é só uma idéia.

De qualquer forma, o mais importante que quero dizer é que você pode procurar o amor a vida toda e jamais o encontrará. Ele é quem há de encontrar você. Não sei o por que, mas pelo que vejo, ouço e vivo, ele parece gostar de nos pregar umas peças, o que encaro como uma qualidade, ser assim, surpreendente.

Eu disse que sou a favor do amor, mas contra a forma como as pessoas o procuram, idealizando-o e sofrendo, se frustrando e dramatizando a aparente dificuldade de encontrar alguém que seja certo pra elas. Sabe, não deveríamos nos preocupar com isso ou acabaremos deixando-o escapar. Deveríamos apenas viver, ir sempre adiante, evitar problematizar relacionamentos, parar de andar em círculos e deixar que um dia, em algum lugar, a espiral nos encontre, deixar que o amor nos encontre. E isso pode acontecer daqui há 10 anos, talvez 30, tanto quanto pode acontecer semana que vem ou quem sabe, amanhã.

Ele me encontrou em algum dia de 2007, mas só no ano seguinte é que eu o reconheci. O amor.
Não foi como em nenhuma das minhas fantasias, não vivi nenhum dos diálogos que planejei pra esse momento, e posso dizer que estava completamente despreparada para recebê-lo. Mas sabe... ainda bem que foi assim. Se tivesse acontecido com a praticidade que minha mente limitada e temerosa propunha, talvez hoje eu não estivesse tomada pelo sentido da mais piégas das palavras, aquela que sempre é rimada com coração, e talvez não fizesse voz diferente ao telefone, não chorasse com histórias românticas nem entendesse o que realmente significa saudade.

E eu descobri que a cética eu, ama cada uma dessas coisas, tanto quanto ama o amado e amor segundo nós.


Ela

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Plebiscito Popular pelo Limite a Propriedade da Terra

"Entre 1 e 10 de setembro o Fórum Nacional da Reforma Agrária e Justiça no Campo promoverá, em todo o Brasil, o plebiscito pelo limite da propriedade rural. Mais de 50 entidades que integram o Fórum farão da Semana da Pátria e do Grito dos Excluídos, celebrado todo 7 de setembro, um momento de clamor pela reforma fundiária em nosso país.

Vivem hoje na zona rural brasileira cerca de 30 milhões de pessoas, pouco mais de 16% da população do país. O Brasil apresenta um dos maiores índices de concentração fundiária do mundo: quase 50% das propriedades rurais têm menos de 10 ha (hectares) e ocupam apenas 2,36% da área do país. E menos de 1% das propriedades rurais (46.911) têm área acima de 1 mil ha cada e ocupam 44% do território (IBGE 2006).


As propriedades com mais de 2.500 hectares são apenas 15.012 e ocupam 98,5 milhões de ha: 28 milhões de hectares a mais do que quase 4,5 milhões de propriedades rurais com menos de 100 ha.

Diante deste quadro de grave desigualdade, não se pode admitir que imensas propriedades rurais possam pertencer a um único dono, impedindo o acesso democrático à terra, que é um bem natural, coletivo, porém limitado.


O objetivo do plebiscito é demonstrar ao Congresso Nacional que o povo brasileiro deseja que se inclua na Constituição um novo inciso limitando a propriedade da terra - princípio adotado por vários países capitalistas - a 35 módulos fiscais. Áreas acima disso seriam incorporadas ao patrimônio público e destinadas à reforma agrária.

O módulo fiscal serve de parâmetro para classificar o tamanho de uma propriedade rura
l, segundo a lei 8.629 de 25/02/93. Um módulo fiscal pode variar de 5 a 110 ha, dependendo do município e das condições de solo, relevo, acesso etc.. É considerada pequena propriedade o imóvel com o máximo de quatro módulos fiscais; média, 15; e grande, acima de 15 módulos fiscais.

Um limite de 35 módulos fiscais equivale a uma área entre 175 ha (caso de imóveis próximos a capitais) e 3.500 ha (como na região amazônica). Apenas 50 mil entre as cinco milhões de propriedades rurais existentes no Brasil se enquadram neste limite. Ou seja, 4,950 milhões de propriedades têm menos de 35 módulos fiscais.


O tema foi enfatizado pela Campanha da Fraternidade 2010, promovida pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Todos os dados indicam que a concentração fundiária expulsa famílias do campo, multiplica o número de favelas e a violência nos centros urbanos. Mais de 11 milhões de famílias vivem, hoje, em favelas, cortiços ou áreas de risco.

Nos últimos 25 anos, 1.546 trabalhadores rurais foram assassinados no Brasil; 422 presos; 2.709 famílias expulsas de suas terras; 13.815 famílias despejadas; e 92.290 famílias envolvidas em conflitos por terra! Foram registradas ainda 2.438 ocorrências de trabalho escravo, com 163 mil trabalhadores escravizados.


Desde 1993, o Grupo Móvel do Ministério do Trabalho libertou 33.789 escravos. De 1.163 ocorrências de assassinatos, apenas 85 foram a julgamento, com a condenação de 20 mandantes e 71 executores. Dos mandantes, somente um se encontra preso, Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, um dos mandantes da eliminação da irmã Dorothy Stang, em 2005.


Tanto o plebiscito quanto o abaixo-assinado visam a aprovar a proposta de emenda constitucional (PEC 438) que determina o confisco de propriedades onde se pratica trabalho escravo, bem como limites à propriedade rural. As propriedades confiscadas seriam destinadas à reforma agrária.

Embora o lobby do latifúndio apregoe as "maravilhas" do agronegócio, quase todo voltado à exportação e não ao mercado interno, a maior parte dos alimentos da mesa do brasileiro provém da agricultura familiar. Ela é responsável por toda a produção de verduras; 87% da mandioca; 70% do feijão; 59% dos suínos; 58% do leite; 50% das aves; 46% do milho; 38% do café; 21% do trigo.


A pequena propriedade rural emprega 74,4% das pessoas que trabalham no campo. O agronegócio, apenas 25,6%. Enquanto a pequena propriedade ocupa 15 pessoas por cada 100 ha, o agronegócio, que dispõe de tecnologia avançada, somente 1,7 pessoas."

Frei Betto


Está tendo votação de 10h às 20h no 4º e 9º andares da UERJ. Se você vir algum posto do plebiscito não se acanhe, vote. Vamos nos fazer ouvir e tentar diminuir um pouco a desigualdade em nosso país.



Ele e Ela

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O Pleno direito a felicidade: Você Se acha especial?

No último dia 15, tivemos o prazer de comparecer a mais um “Domingo é Dia de Cinema”, uma sessão de cinema voltada para pré-vestibulares comunitários a fim de fomentar o debate de temas de grande relevância para o crescimento de nossa consciência cidadã. O tema em cartaz desta vez foi a questão fundiária no Brasil com a exibição do filme “Nas Terras do Bem-Virá”, já aclamado neste blog. No entanto, esta postagem não será referente a temática mais óbvia trazida pelo filme, mas sim acerca do roteiro social que anima todo o nosso cotidiano de desigualdades e espoliações.

Fomos sensivelmente cativados pelas palavras de um dos debatedores, a “sem teto” Lurdinha, que com a sua paixão e retórica de causar inveja a qualquer cientista social, nos levou a uma série de reflexões e a reafirmação da necessidade cada vez maior da efetiva participação popular como mola propulsora da história. Uma fala em especial chamou muito a minha atenção, tentarei reproduzi-la com o máximo de fidelidade, porém com as adaptações que minha malfadada memória impõe.

“A sociedade organizada entra em confronto com os interesses do capital por duas vertentes distintas, porém complementares. A primeira vai no sentido da reivindicação e busca de melhores condições de trabalho, ou seja, de vida. Já a segunda está relacionada ao reencontro do homem com a solidariedade, a volta a vida em comunhão e a conseqüente negação ao individualismo e competição do mundo contemporâneo.”

É sobre esse individualismo e egocentrismo que dedico o esforço de escrever essas palavras. Assistimos com cruel passividade aos inúmeros problemas que se impõem a nossa sociedade, como a fome, a total falta de dignidade em que vive 1/3 da população mundial e a alienação em que vive grande parte dos homens em relação as suas verdadeiras potencialidades e necessidades. Agradecemos a Deus o conforto e as “graças” de nossa vida e fechamos os olhos para os “negligenciados de Deus”, achamos que somos perfeitamente merecedores de tudo o que temos, mas esquecemos que muitos não têm direito nem se quer a dignidade.

O que tiro disso tudo é que realmente acreditamos que individualmente somos especiais, dignos de todas as benesses que o mundo possa nos oferecer e com o passar do tempo, nos tornamos incapazes de nos sensibilizar com as necessidades de tantos seres humanos como nós, que também tem o direito a plena felicidade!

Esta tal plena felicidade que nos foi expropriada e pela qual não lutamos para recuperá-la. Salvo algumas boas exceções, ao invés de oferecermos a sociedade o que temos de melhor, com os nossos verdadeiros talentos, desperdiçamos uma significativa parcela de nossa vida a atividades que servem acima de tudo para a maior remuneração do capital, em troca de fugazes momentos de consumo, e o pior, acreditamos que isso é o que nos faz verdadeiramente felizes.

Gostaria de pedir desculpas às pessoas “agraciadas” por Deus, mas vocês não são especiais, todos nós somos especiais, todos têm o direito à plena felicidade. Não estou falando aqui do gozo do consumo, mas sim, daquilo que nos torna verdadeiramente humanos, que é o amor, a compaixão, o afeto, a liberdade, o exercício das nossas verdadeiras potencialidades. É exatamente esse direito fundamental que nos é progressivamente cerceado, e o que fazemos quanto a isso?

Na verdade não fazemos nada, e ainda contribuímos para a manutenção desta situação. A única coisa que interessa é a satisfação dos interesses individuais, que de autênticos não tem nada, temos gostos cada vez mais genéricos, opiniões cada vez mais pasteurizadas e satisfações cada vez mais contestáveis. A coletividade, a fraternidade e a comunhão, inerentes a qualquer organização social saudável são substituídas por enfermidades como o individualismo e a ganância nesta nossa sociedade doente.

Por fim, assim como a companheira Lurdinha, a quem a partir de hoje tenho uma imensa admiração, convido a todos a levar uma vida cada vez mais humana, a procurar o movimento social mais próximo e dar a sua contribuição, para avançarmos na idéia do “cada um tem que fazer a sua parte” para o que Paulo Freire já anunciava: “Ninguém muda ninguém, ninguém muda sozinho, nós mudamos em comunhão”.

Um carinhoso abraço a todos, em especial àqueles que dedicam a sua vida ao ser humano, Irmã Dorothy, Chico Mendes e muitos outros mártires da luta pela dignidade humana!



Ele

terça-feira, 27 de julho de 2010

Os indispensáveis

Hoje era pra ser um dia como qualquer outro. Exceto por ser o dia do nascimento do João Vitor e do aniversário de 22 anos da Luísa. Mas às 13h ele se tornou um dia muito diferente para uma colega de trabalho, e de certa forma, para mim também.


Estavam os quatro almoçando e conversando, como costumava ser, mas o assunto mudou a partir de um comentário da Stephany:

- Gente, eu tenho uma amiga que lê mão e nossa... ela leu a minha e disse que uma coisa muito ruim vai acontecer quando eu tiver 50 anos... e agora não consigo parar de pensar nisso. Será que vou ter uma doença grave? Será que alguém próximo vai morrer?

Rafael tentou tranqüilizá-la:

- Steph, muita coisa ruim vai acontecer até fazermos 50 anos e talvez isso aí da sua amiga nem seja tão ruim. Talvez ela esteja falando da morte da sua mãe, mas pô... perder a mãe com 50 anos é tranqüilo, ela já vai estar bem velhinha...

- Ou então você pode ter câncer, ou seu filho morrer. – disse Felipe entre risos.

- Ai, credo, garoto! Mal nasceu e você já quer matar meu filho!

- Não pô, tô só sendo realista.

- Essa é a maior dor que uma pessoa pode sentir!

- Ah, você pensa isso porque nunca levou um chute no saco. – disse Rafael entre suas próprias risadas e as de Felipe. E continuou:

- Não, gente... falando sério agora. Esse negócio de lei natural das coisas, isso não existe. Pessoas morrem independente da idade.

- Claro que existe! Morrer antes de ficar velho acontece, é uma fatalidade, mas se não houver nenhum problema no percurso, ninguém vai ver o filho ou o neto morrerem. – se pronunciou Mariana.

- Mas aí é uma situação ideal. Ninguém sabe quando vai morrer, pode acontecer a qualquer momento, o que é normal. – rebateu Rafael.

- Às vezes, o pessoal da faculdade ficava brincando, se perguntando quem de nós seria o primeiro a morrer, porque sempre tem alguém que morre assim, quando a gente é jovem. Mas a faculdade passou e ninguém morreu, graças a Deus. - comentou Stephany

- É, as vezes eu também penso nisso... como quando minha mãe me mostra fotos de amigos das antigas e vira e mexe tem alguém que ela fala “esse aí morreu novinho, num acidente qualquer”. Aconteceu com o primeiro namorado dela quando ele tinha 19 anos... – lembrou Mariana.

Rafael não se conteve:

- Cara, vocês já pararam pra pensar que um de nós vai enterrar os outros três? A menos que todo mundo morra junto num acidente, é claro.

- É, provavelmente esse alguém vai ser a Mari, que é a mais novinha. – disse Felipe

- Cara, já disse que isso não tem nada a ver... se uma pessoa tá viva...

Mas o que Rafael ia dizer em seguida foi interrompido pelo toque do celular de Stephany.

- Alô? Que? QUE? Meu Deus, e a gente falando disso!

Ela disse tudo muito rápido, enquanto seus olhos se enchiam d’água e em seguida se levantou da mesa e correu para a saída do restaurante, sem dizer mais nada.

Os outros três se olharam preocupados.

- Que será que aconteceu? – perguntou Mariana.

- Não sei, mas boa coisa não foi... – disse Rafael.

- Cara, será que aconteceu alguma coisa muito grave?

- Tipo alguém morreu? – completou Felipe pronunciando o que ninguém ousava pensar.

- Eu vou lá falar com ela.

Rafael saiu do restaurante atrás de Stephany, mas minutos depois voltou dizendo que ela já não estava mais por perto e que talvez tivesse isso embora. Os três a procuraram ainda na recepção, ligaram para o seu celular, mas não obtiveram resposta. Decidiram voltar para a sala, ver se ela estava por lá, mas Stephany já havia saído sem que ninguém percebesse. Para a coordenadora, eles explicaram o ocorrido e ela, preocupada, ligou para a moça.

Stephany respondeu, aos prantos, que uma amiga tinha falecido num acidente de carro e que ela estava num táxi, indo encontra-se com outras pessoas, talvez parentes da jovem vítima.


E esse foi de longe, o episódio mais estranho relacionado a morte, que já presenciei na minha vida. Fui embora com minhas pernas tremendo e o coração apertado. Podíamos ter falado sobre qualquer coisa naquele almoço, mas de repente, falamos sobre morte e de repente, uma pessoa morreu. Uma moça que deixou parentes, amigos e sonhos pelo caminho. E em momentos como esse eu não consigo parar de pensar na dor da perda dos bens mais preciosos desse mundo: os amigos. Eles, que são a razão das nossas maiores alegrias, da nossa força e coragem, que estão sempre ao nosso lado, mesmo que não precisemos. Amigos irmãos, primos, de infância, de faculdade, amigos do trabalho. Amigos com muita afinidade e amigos com nada em comum, mas fiéis a tudo que passaram juntos. Amigos pais, mães, filhos, avós, tios, namorados, amigos. Eles são luzes em nossas vidas e o apagar de qualquer delas traz muita dor sobre o vazio que é a ausência dos sorrisos, das risadas, dos abraços, dos momentos inesquecíveis, dos apuros, do companheirismo, do carinho e amor incondicionais.

E é para esses seres, essenciais à existência de qualquer um, que quero dedicar esse texto. Aos meus amigos, razão da minha vida. E aos amigos deles também, e aos amigos destes e a todos os grandes amigos que eles tiverem.

À todos os amigos do mundo quero agradecer por serem tão companheiros, tão especiais e indispensáveis à alguém, incluindo aqueles amigos que já não existem mais, mas que marcaram sua presença nesse mundo por excelentes que foram e que teriam sido sempre.

E à todos aqueles que estarão em breve entre nós, eu quero desejar os melhores amigos que alguém pode ter, pois não há na vida, bem maior que este.


Aos que marcaram meu dia de hoje, sendo dois deles completamente desconhecidos, eu deixo aqui registrados meus sentimentos.

Adeus, Helena, querida amiga da Stephany.

Parabéns por mais um ano bem vivido, Luísa.

Seja bem-vindo ao mundo, João Vitor.


Ela

terça-feira, 20 de julho de 2010

Comunidade



Em uma típica manhã de verão carioca, daquelas que a pessoa só tem duas opções: ou vai à praia ou se mata devido ao desespero provocado pelo calor, um ônibus de uma dessas linhas que liga a Zona Norte a Zona Sul, é esse mesmo que está pensando, aquele que o ponto final causa arrepios nos mais “nobres” freqüentadores da praia, seguia abarrotado de pessoas que optaram por continuarem vivas no calor infernal. A viagem seguia nada confortável, dava até para sentir inveja das sardinhas em suas latas, compartilhavam-se os fluidos corporais e era impossível identificar se você estava suando ou se era apenas uma contribuição do companheiro ao lado.

O trânsito não contribuía e a infindável Av. Nossa Senhora de Copacabana dava nítida sensação de estar atravessando o estado da Bahia, a praia nunca chegava! 90% das pessoas pareciam pertencer a uma espécie de mundo diferente, falavam um dialeto próprio, trajavam roupas peculiares e levavam muitas sacolas, isopores e bolsas térmicas. Os outros 10%, apesar de representar a incontestável minoria, estavam visivelmente incomodados de dividir esse espaço com indivíduos tão peculiares, sentiam-se portadores dos padrões adequados e ultrajados pela violação das “normas” mais sensíveis da sociedade – esse bando de “favelados” – pensavam muitos!!!

Esses mal falados “favelados” vivem em uma organização social sujeneris a auto denominada “comunidade”. É uma espécie de corpo estranho à cidade e ao mesmo tempo inerente a sobrevivência da mesma, lá vivem aqueles a quem é negado o direito a cidade e que tanto incomodam (pelo jeito de falar, vestir, andar, pelo gosto musical, etc) àqueles que exercem e exigem privilégios da cidade.

Considerando que a esmagadora maioria da população do ônibus pertence a uma dessas comunidades podemos, pelos rigores estatísticos, usar essa recorrente cena cotidiana como uma espécie de teatro da vida citadina. Voltemos então ao coletivo. As pessoas pareciam fazer parte da mesma família, com algumas inconvenientes exceções, conversavam em voz alta com uma intimidade mútua. O filho de “uma”, que pedia biscoito, ia no colo da “outra” que gritou (aliás ela gritava sempre, mas nesse momento ela fez um esforço particular) e pediu para alguém do fundo do ônibus o “Trakinas” que prontamente Foi disponibilizado para a criança. Falavam gírias, aquelas abertamente ridicularizadas por pessoas que se acham especiais e detentoras do direito de classificar as pessoas pejorativamente pelo o que elas falam e vestem. Não demonstravam o menor incômodo em relação aos olhares enojados e arrogantes dirigidos a eles pela minoria arrogante, ao contrário, essa minoria é que parecia estar sendo desrespeitada e agredida por um bando que “não tem o mínimo de educação”.

Enquanto os “favelados“ pareciam fazer jus ao nome dado ao local onde vivem, relacionavam-se em uma espécie de comunhão na qual todos eram tratados nominalmente como se realmente a vida de “um” fosse a extensão da vida do “outro”. Os outros passageiros consideravam isso um ato de completa falta de civilidade, pois estas atitudes ferem a égide do individualismo em que vivemos, em que as relações são circunscritas a uma pequena dezena de pessoas. Esse estilo de vida espontâneo, solidário e cooperativo é coisa de favelado, civilizado é não conhecer ninguém do prédio aonde mora e negligenciar as necessidades mais proeminentes das pessoas ao seu redor, passando a vida achando que o mais importante é satisfazer as suas próprias necessidades.

Chegando ao ponto final, os “favelados” saem ansiosos em direção a praia e ignoram completamente os acontecimentos da viagem, já aquelas poucas pessoas tão incomodadas pelo incessante falatório e pelas gírias, logo que descem do ônibus iniciam uma conversa, na qual reclamam efusivamente dos demais ocupantes. Paradoxalmente, para estes últimos indivíduos que tanto abominam esse estilo de vida coletivo, que pouco se interessam pelas pessoas em sua volta, tem como prática corrente julgar e condenar comportamentos alheios. É assim, não se quer saber o que as pessoas são ou o que elas precisam, mas sim o que elas parecem e podem oferecer enquadradas dentro de um padrão arrogante de comportamento.


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