quarta-feira, 11 de maio de 2011

Carta aos Nossos Primeiros Heróis

Tem dias em que nos deprimimos, cientes da nossa voz em minoria, da nossa desarticulação enquanto grupo, da clareza dos nossos temores. Mas incrivelmente, com uma força que só a sensibilidade é capaz de oferecer, a tristeza se supera no pontinho de esperança que ganha um brilho incalculável na mente resolvida em ideologia e vira combustível para a luta. E não importa que nosso sangue tenha sido alimentado durante anos pela direita, quando ele amadureceu se fez livre e oxigenou nossos cérebros com compaixão, inteligência e coragem em praticar ambas. E a tendência, embora muitos terão o prazer de contestar, será o engrandecer, realizar e propagar desses valores.

Netos, filhos do discurso reacionário e fascista, em nossa adolescência encontramos portas abertas para o amor ao próximo e os alicerces para o conhecimento teórico que nos tornariam críticos da realidade e é isso que queremos que nossos filhos herdem. Mais do que olhos, cabelos e traços, mais do que habilidades e gosto para as artes, queremos que eles sejam sensíveis e críticos o que, sendo apenas o mais valioso, não há de constar em testamento.

E é por isso que consiguimos imaginar a dor daqueles que cederam genes para a nossa formação em constatar a desvinculação das nossas ideias das suas próprias, já que é um medo que nos assombra também. Mas podemos garantir que à grande parte disso lhes cabe a culpa, por nos terem tanto recheado o peito de amor que o único destino que nos coube foi o de expandí-lo para os outros seres humanos. Se somos quem somos, se nosso projeto de vida vai além de nós mesmos, também devemos isso a vocês, para seu desgosto e nosso orgulho.

Para além da divisão ideológica, seremos pra sempre sangue dos seus, amor que nasceu e floresceu a partir dos seus corações, mas terão de aceitar que enquanto houver direita, a esquerda integraremos, enquanto existir desigualdade e intolerância, haverá luta e enquanto esta existir, nela estaremos e morreremos.




Sangue do meu sangue, o sangue que hoje corre em minhas veias é uma variação do seu, mas as ideias que interligam minha mente e coração se desconectaram de você e encontraram paz na luta pelo próximo, sem levar contudo, o meu amor de menina.

O primeiro herói, a gente nunca esquece.

Ela

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